Cancelado pelo Nubank: por que meu dinheiro foi bloqueado?

João Varella
3 min readFeb 4, 2024
IA, desenhe a distopia bancária

O dono do caça-níquel nunca perde. Guarde a frase.

Recebi um e-mail do Nubank avisando que minha conta estava bloqueada. “Após uma análise mais detalhada, optamos pelo cancelamento definitivo de todos os seus produtos Nubank. Este processo é irreversível”, dizia a mensagem. Ué, será golpe?

Por chat e telefone foi confirmado: sim, é isso mesmo. Fiquei atordoado. Nunca atrasei fatura do cartão, nunca fui negativado. Na primeira hora de bloqueio, pensei que se tratava de um bug no sistema. O relógio andou e sim, é isso mesmo, cancelado.

Roguei explicações. Nada concreto, decisão do banco, o processo é irreversível.

Prometeram devolver o dinheiro, mas só depois de dez dias. Insistir é inútil, o prazo é esse.

Baixei a guarda. Deixei o NuBank tomar conta da minha carteira, virei refém. Com o cancelamento sim arriscava atrasar contas, ficar negativado. Estava f0d!#o.

O contrato

A mensagem aponta cláusulas de contratos. O Nubank se orgulha de não ter “asteriscos ou letras miúdas”. Porém, são textos gigantescos marinados em juridiquês. Li.

As cláusulas afirmam que o Nubank pode cancelar a conta do usuário de maneira sumária caso haja atividades “indevidas”. Qual? Não sei, o processo é “irreversível”.

Atendimento

Característica das empresas de tecnologia — startup ou big tech — é não dar satisfação. A rede social apaga seu post afirmando que “regras foram descumpridas” e pronto. O ambiente digital é regido por constituição invisível e inacessível.

Continuei cavando por uma elucidação. Deparei-me com o fórum do próprio Nubank, lotado de explicações tortas.

A página oficial diz que uma das possibilidades de o Nubank cancelar o cliente é “desinteresse comercial”. Hmmmmmmm… talvez eu tenha irritado o dono do caça-níquel.

Tô ligado

A megaempresa quer me oferecer 30 dias grátis de assinatura para ver se eu na bobeira deixo a mensalidade dormir no cartão de crédito? Nem ferrando. Anoto na agenda para cancelar a parada 27 dias depois — três dias de margem de erro.

Estou pronto para usar o cartão que dá mais benefício, serviço mais barato — grátis, de preferência. Evito taxa bancária. Antes do PIX, eu pagava as editoras da Banca Tatuí sacando dinheiro em nota para ir ao caixa dos bancos fazer cada depósito. Hoje não me arrisco andando pela rua com o bolso cheio de dinheiro, transferência é online e na faixa.

O Nubank oferece cartão de crédito gratuito e até um cashback, com rendimento alto e liquidez. Vamos nessa. Porém, está lá no contrato cheio de letras, se o cartão for cancelado, perde tudo. Não tem garantia, não tem segurança, quem decide são eles.

Mesma coisa com a NuCoin, a criptomoeda oferecida grátis aos clientes. Quem perde a conta perde tudo. E a conta pode ser cancelada a qualquer momento. Está no contrato, você assinou.

Perdi. Fiquei angustiado. Como assim, meteram a mão no meu bolso com essa facilidade? Como pude ser tão burro de confiar no “roxinho”? Em que momento baixei a guarda para um app reter meu dinheiro?

Até as caixinhas

Recebi avisos de que meus cartões virtuais foram cancelados, uma pá de serviços digitais parou de funcionar. A pilha de problemas aumentava, a cabeça ficava à milhão.

Minhas caixinhas — investimento simples oferecido aos clientes organizarem as finanças, espécie de poupança com design e nome fofuxo — foram desfeitas. O próprio banco estava metendo a mão, mexendo no dinheiro. Eu só assistia do aplicativo.

Dois dias e meio depois, pediram os dados de alguma conta bancária em que eu fosse titular para parte do dinheiro que tinha lá — uma parte ficaria retida para garantir o pagamento das próximas faturas do cartão. Mandei minha conta no Banco do Brasil e, mais uma vez, supliquei por justificativas. Nada.

O processo é “irreversível”, repetiram. Tinha a impressão de me corresponder com um robô com nome de humano.

Eu precisava dar um jeito de chamar a atenção do dono do caça-níquel.

Continua aqui.

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